TRANSPORTE, LANÇAMENTO E NAVEGAÇÃO FLUVIAL DO ARAGEM 


Eu não tinha mais o que esperar. O rio prometia baixar da noite para o dia, pois não havia nenhuma previsão de mais chuvas. Minha última inspeção a um dos lugares mais críticos, no rio Poty, próximo ao Zoobotânico, onde uma barragem natural de pedras atravessa de um lado ao outro do rio, mostrara que o Aragem, com seu calado de 80cm, passaria com sua mini-quilha arrastando no serrote submerso. Minhas escolhas seriam colocar o barco naquelas condições ou esperar o ano que vem, sem ter certeza que o rio chegaria sequer ao nível atual na próxima estação chuvosa.

Dei mais uma olhada na Potycabana (um parque aquático em reconstrução), que sempre me parecera bom local para pôr o barco, exceto que deveria ser usado um guindaste com lança de uns 30 metros. Por outro lado, tem ótimo acesso e fica bem próximo de minha casa. A opção original, ao contrário, era a rampa do Poty Velho, indo-se pelo bairro Pedra Mole, via avenidas Raul Lopes, João XXIII e Presidente Kennedy. Eu percorreria nada menos do que uma via urbana e três rodovias, sendo uma federal, uma estadual e outra viscinal. Seriam vinte longos quilômetros de inúmeros obstáculos, sendo maior deles a burocracia, com vários órgãos públicos envolvidos, cada um com seu pensamento em face a um elenco de normas.

Na Potycabana, o rota encurtaria 15 quilômetros e usaríamos apenas uma via pública dependendo somente do órgão de trânsito municipal.

Estava decidido: seria na Potycabana. Acertamos a parte burocrática e defini com as empresas que fariam o transporte e o lançamento que o dia "D" seria 18 de maio, uma quarta feira.

O que aconteceu em seguida foi a continuidade de uma série de contratempos que, no final, terminaram sendo vistos como felizes coincidências, culminando com o êxito total do projeto de lançamento mudado à última hora.

Primeiro, a demora no desviramento de dois vagões descarrilhados no pátio de manobras da REFESA impediu a empresa de guindastes de estar no dia e horário programados inicialmente (18 de maio, quarta feira, pela manhã). Avisaram que só podiam vir no dia seguinte, de manhã, para que o barco fosse lançado ainda naquele dia. O Aragem já fora colocado lá fora, do outro lado da rua, onde teve que pernoitar. 

Mas houve nova mudança de planos.
Uma grande manifestação na BR-316, provocando quilômetros de engarrafamento,  reteve o guindaste que poria o barco sobre a carreta. O transporte até o rio, previsto para aquela manhã, só veio ocorrer ao final da tarde, com o percurso já à noitinha e chegada à Potycabana em horário que não seria seguro para a operação de lançamento.      

O Aragem foi apenas retirado da carreta que o transportou e colocado sobre o berço onde esperaria até o dia seguinte.

Porém, a mudança fora providencial e, de novo, a conjunção de fatores inesperados contribuiu para o sucesso do projeto. O nível de água do Poty subira meio metro naqueles dois dias, facilitando o alcance dos guindastes e garantindo passagem tranqüila na corredeira do Zoobotânico. Também a obra de reconstrução da Potycabana iniciara e haviam melhorado o acesso até a beira do arrimo onde seria o lançamento.

As felizes coincidências não pararam aí. Era hora de almoço quando finalmente os dois guindastes estavam posicionados com o Aragem pendurado sobre o rio. Mas verificou-se que o ângulo máximo atingido pelas lanças seria insuficiente para pôr o barco na água. Boa parte dele iria tocar a sapata de pedras submersas que servia de base ao arrimo. O que era pior, àquela altura a operação não poderia ser revertida, pois havia risco de os guindastes não suportarem e... Deus sabe o que iria acontecer. 

Entretanto, novamente o acaso conspirava a favor. Havia máquinas pesadas no canteiro de obras e o dono da Construtora  gentilmente autorizou que duas imensas escavadeiras, com suas pás cheias de barro, ancorassem os dois guindastes, que assim puderam abrir ainda mais o ângulo de suas lanças e, com toda segurança, depositar o Aragem suavemente sobre a corrente do rio.

Já estávamos posicionados no rio, em uma lancha. Então recebemos o cabo preso à popa do Aragem, que fora liberado dos guindastes, e o puxamos rapidamente para longe do arrimo.
       
Pronto!  A lancha então aproximou-se da plataforma de popa e pudemos embarcar, eu e a tripulação. Tomei posição na máquina de leme, liguei o motor e fomos atracar mais adiante, no atracadouro da Secretaria do Meio Ambiente, onde os familiares e amigos esperavam para embarcar e proceder à cerimônia do batismo.

A quebra do champanhe coube à Almirante, que tentou mas não conseguiu quebrá-la batendo várias vezes na ferragem da âncora. Diante de tantos fatos inexplicáveis, demos o Aragem por batizado e guardamos a garrafa de champanhe como lembrança.

Era uma confraternização sob um sol muito forte. E lembrei-me que o meio metro de água ganho no Poty já poderia estar dimunuido. Não havia tempo a perder. Liguei de novo o motor, virei para o meio do rio e zarpamos imediatamente, com uma longa buzina e acenos para todos lá em cima. Nosso destino, por aquela tarde, seria o atracadouro do Poty Velho, primeiro local estudado para o lançamento e onde o Aragem mais uma vez pernoitaria antes de finalmente zarpar rumo ao litoral.  
  
A série de fotos a seguir documenta os três dias de imensa tensão, quando a adrenalina injetou minhas veias de tal forma como sei que nunca o fizera antes. Dormi muito pouco naqueles dias. Praticamente tombava cedo da noite, vencido pelo estresse dos preparativos, mas acordava ainda de madrugada e não conseguia mais dormir.   








18 de maio de 2012. Uma vez desmontado o galpão, o Aragem foi retirado do "casulo" onde passara quase oito anos, desde quando era apenas um projeto, um gabarito e muita vontade de construir somados a uma pilha de tábuas e folhas de compensado no quintal.





Pernoite sobre a calçada da praça ao lado, aguardando pelo transporte no dia seguinte.




Manhã do seguinte (19/abril). 





Tarde do dia seguinte (19/abril). Começa a movimentação. O guindaste posiciona-se para montagem da lança.





A carreta de reboque também se posicionando.





O Aragem recebe seu nome em decalque.





É finalmente içado...








... e posto sobre a carreta de reboque.





O Aragem sendo preso sobre a carreta de reboque. 




O Aragem sendo transportado, já à noite, para o local de lançamento.






Manhã seguinte (20/abril). O mastro sendo colocado sobre o Aragem.







Imagens do lançamento no início da tarde de 20 de abril de 2012.











>>> LANÇAMENTO






O Aragem navegando. Aqui estávamos chegando, já próximo ao final da tarde, ao atracadouro do Poty Velho (o local descartado para o lançamento, como dito antes), onde pernoitaríamos para zarpar na manhã seguinte.